Uma multifamilia espécie - Carlos e Roque
Agruras nas noites frias
fome, sede e cia
Eis o Roque que surge
bebezão faminto, sorridente
também chora de repente
nos dias quentes e nas noites frias
Passam dias e dias sob o mesmo teto
O céu e a rua
Início, ilustres desconhecidos
renegados ao descaso, desconhecidos inúteis
amigos distintos em minutos
multifamilia espécie especial
partilhando a mesma faina errante, saltitante
de um lado e de outro, nas esquinas, praças, a rua um parque
Um acidente, o Roque atropelado
Costelas quebradas, patas rasgadas, dilaceradas, mas a
piedade estava de prontidão, socorro e cura
dias de plantão, Roque no abrigo do indigente, é da rua
Quem sabe alguém o adote?
Carlos sem teto, sem documento, sem sorte
Desesperado procura o direito, justiça, sabendo que não a tem
pois é morador de rua, maltrapilho, miserável
Ele não existe, mas quem sabe?
A justiça é cega, e ela devolve o moleque , restabelecido
Novamente o reencontro dos desiludidos, sorridentes, sem dentes
Choro de emoção, só de duas almas gratas
Que voltam a compartilhar o mesmo teto de luar, de chuva e de sol
de fome, de penúria, provido do vazio sólido dos restos
Nas ruas da metrópole, a multifamilia de espécie especial
Carlos humano, Roque reconhecidamente um cão
Com direito de ter seu pai, seu tutor, seu amigo e
com ele partilhar, dividindo o nada que tem,
asperezas, dissabores da vida de cão,
ou seria um cão dando humanidade a vida de um homem de rua