Poema de cortar o coração
Sobre a calçada molhada da chuva,
Um jovem alto, belo, aflito, súplice,
Implorando alguém lhe desse um chinelo.
Descalço, pisava na terra úmida, transmitia seu
Sofrimento do frio nos pés e o desapossamento da
proteção para os artelhos, misturado à dor de nada possuir.
A dor de se ver ao lado de um templo da mercadoria sem ter a oferenda
Para adorá-la e sem gozar de suas bênçãos, doía mais forte pelo calor do frio
Subia do chão para a alma, entranhava os músculos, enregelava toda a pele.
Um também pobre homem sentiu o momento da oferenda aos deuses era chegado
E, com um coração maior, o frio afligira, o jovem padecia, rezou para a mercancia, ofereceu no altar o dinheiro, sacrifício potente, e recebeu dos deuses, sandálias para estar sob o corpo do jovem que agradeceu e sua dor encolheu, não sumiu.
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 06 de janeiro de 2022