A pororoca
Vejo o capitalismo como o efeito estufa,
Tem que ser com ele, mas o excesso faz mal,
Não dá pra suportar a pororoca neoliberal.
Nem dá pra engolir a conversa do javali,
Que trata o povo como o vendedor de caldo trata a cana.
O povo é apenas uma escada pra subida do bacana.
A distância entre o bacana e o bagaço de cana não para de aumentar.
E certos moços têm coragem de falar que sugar é sustentar.
Tapam o sol com uma peneira, falam sério de brincadeira,
Deixam a massa amassada, sugada, jogada na esteira.
Se as coisas vão de vento em popa,
Eles vão enchendo a boca.
Quando a ventania não for dentro do acerto,
Apertam ainda mais os que vivem no aperto.
Olhando os horizontes, vejo o hoje pior que o ontem.
Sinto os ventos me puxando para trás,
Soprados pelos toques da viola dos neoliberais,
Que toca no ritmo que quiser.
Faz a festa e bate o pé
E por mais que toque errado
Jamais o pinho é culpado.