Passos na calçada

by clevane pessoa de araújo lopes,( January 18, 2004 at 09:10:42 )

Passos esparsos nas calçadas

molhadas pelas garoas das madrugadas

-sempre ex-passos:passados, se vão

cevam a escuridão(de quem são,

de quem foram ou serão?)

e se desmancham em nada

ou em vestígios que sumirão...

Um poeta passante, em busca

da melhor rima ,da rara

forma/fórmula de dizer

a mesma inquietação

ou registro, dor ou alegria

de forma inédita, diferenciada

por qualquer forma

in/formal,

escreve com sapatos cambaios

seus ensaios poéticos,

enquanto anda, des/anda,

cabeça nas coisas do Alto...

Um bêbado com brumas de álcool

a cercá-lo

pensa que a sombra do poste

é o pescoço de um cavalo

e corre,delirium- tremens

a se iniciar, em breve

verá insetos mortais

e ratazanas na neve,

onde nem neva sequer,

rodas de fogo que não quer saltar...

E os trêmulos, incertos passos

são laços a se desatar...

Passam amantes, abraçados,

em capítulos de beijos infindos,

param, reparam sabores, umidades,

confundem as marcas no chão:

na hora do amor,

que importa quem é quem?

Passa a troupe de artistas,

tão pobres e com fome

após o espetáculo

sem nada de espetacular,

mas milionário de sentimentos

e esperanças(talvez um apenas

um dia quem sabe,

talveztalveztalvez,

terá sucesso, mas as entranhas

já terão doído e, claro, corroído

o ventre que dói, pois

o ácido clorídrico

é fortíssimo e precisa de alimento

mesmo de comidas estranhas...

Passa o padre

para a primeira Missa

do domingo, as beatas,caricatas,

mas tantas ingênuas passarinhas

em algaravia de pardais,

sevem ao Senhor, aos senhores...

Passam tantos passos

e a calçada, nada:

treinada para o silêncio de ouro,

não delata, não delata...