Somos Todos Náufragos Escravos
Lamentos, gritos na noite,
Náufragos da alma..
Choram, sangram.
E se afogam solitários.
Da África imensa raptados,
Negros e negras sedentos.
Príncipes, princesas, plebreus.
Meninos e meninas.
Vivem a mesma dor.
Nos navios são todos perdidos.
Agora, brancos contam histórias,
Dizendo que fomos libertos.
Querem que comemoremos,
Querem que agradecemos.
O que, a quem e como?
Se somos todos nalfragos escravos.
Se há uma igualdade.
É que brancos também são
Nas fábricas, nas comunidades.
Nos campos e nas cidades.
Todos sangramos iguais.
E morremos.
Antônio Cândido Nascimento