Nunca Mais, Parte II
Pautar a vida por expectativas limitadas
Contabilizar as vezes que não acontecerão mais:
Nunca mais o tango sob o céu estrelado
Nunca mais interesses sóbrios e enigmas embriagados
Se não posso tê-lo pelo acontecido, o negarei:
Não quero, não pertenço, não o conheço
Desenbainharei do abrigo
Meus clássicos abismos
Não foram embargos estrangeiros
O som de mordaças pesando contra línguas
Borrando rostos em nome de uma simpatia
O amante não terá perdão nesses vieses
Minha infelicidade atroz
Esteve me desconhecendo do convívio
Eu não reconheço mais o meu tamanho
Eu não compreendo mais meus medos
Semelhante memória, não me convença
Não me levante estátuas, não me invente nomes
Interrompa toda a honraria a beira mar
Meu corpo se dispôs a terra e em sua revolta voltará
Há sombras inconsoláveis procurando por mim
Já se somam três décadas, meu corpo no purgatório do esquecimento
Dissolvido em banheiras químicas, afogado em ira
Esquecido em valas secretas de casarões privados
Minha vontade era erguer um momento
A todos que foram escorraçados e esquecidos
Nunca mais tardar nomes de generais
Para que amanhã alguém possa absolvê-los
Nunca mais ruas, nunca mais pontes, nunca mais avenidas,
Nunca mais poréns, nunca mais porões, nunca mais torturas
Nunca mais escondê-los, mas apresentar reis desnudados e frágeis
Nunca mais exaltar tiranos outra vez...