Nunca Mais, Parte II

Pautar a vida por expectativas limitadas

Contabilizar as vezes que não acontecerão mais:

Nunca mais o tango sob o céu estrelado

Nunca mais interesses sóbrios e enigmas embriagados

Se não posso tê-lo pelo acontecido, o negarei:

Não quero, não pertenço, não o conheço

Desenbainharei do abrigo

Meus clássicos abismos

Não foram embargos estrangeiros

O som de mordaças pesando contra línguas

Borrando rostos em nome de uma simpatia

O amante não terá perdão nesses vieses

Minha infelicidade atroz

Esteve me desconhecendo do convívio

Eu não reconheço mais o meu tamanho

Eu não compreendo mais meus medos

Semelhante memória, não me convença

Não me levante estátuas, não me invente nomes

Interrompa toda a honraria a beira mar

Meu corpo se dispôs a terra e em sua revolta voltará

Há sombras inconsoláveis procurando por mim

Já se somam três décadas, meu corpo no purgatório do esquecimento

Dissolvido em banheiras químicas, afogado em ira

Esquecido em valas secretas de casarões privados

Minha vontade era erguer um momento

A todos que foram escorraçados e esquecidos

Nunca mais tardar nomes de generais

Para que amanhã alguém possa absolvê-los

Nunca mais ruas, nunca mais pontes, nunca mais avenidas,

Nunca mais poréns, nunca mais porões, nunca mais torturas

Nunca mais escondê-los, mas apresentar reis desnudados e frágeis

Nunca mais exaltar tiranos outra vez...

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 25/05/2024
Código do texto: T8071323
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