Contra-ordem
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Atentaram contra nosso encanto.
A primeira bomba mirou em cheio
aos nossos corações.
Desnorteados, negamos o riso,
corremos sisudos
a um lugar mais frio
e escuro.
Babélica imagem:
a plenária estupefata decidia
esvaziar os corações.
Outros, radicais, não queriam
dos corações nem rastro
em cantiga ou poema.
Esvaziem, era a ordem. - Engano! Engano!, gritei
ao me retirar
e lançar às chamas o tanto
de alma que me cabe.
É que a alma tem segredos e,
em ardências, se amplia
e mais sabe ser na inquietude.
Riu-se um camarada,
mas era manhã
e o porre de cachaça e suor
tornava verdade as canções.
Bandeiras que erguemos,
vermelhas, são
tremulantes corações.
Os punhos erguidos
são guardados, na noite,
pelas mãos que afagam. - Voltem aos corações!, bradou um outro.
O fundo flamejante do peito,
o calor ansioso e úmido das bocas,
são a nossa melhor chance.