Contra-ordem

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Atentaram contra nosso encanto.

A primeira bomba mirou em cheio

aos nossos corações.

Desnorteados, negamos o riso,

corremos sisudos

a um lugar mais frio

e escuro.

Babélica imagem:

a plenária estupefata decidia

esvaziar os corações.

Outros, radicais, não queriam

dos corações nem rastro

em cantiga ou poema.

Esvaziem, era a ordem. - Engano! Engano!, gritei

ao me retirar

e lançar às chamas o tanto

de alma que me cabe.

É que a alma tem segredos e,

em ardências, se amplia

e mais sabe ser na inquietude.

Riu-se um camarada,

mas era manhã

e o porre de cachaça e suor

tornava verdade as canções.

Bandeiras que erguemos,

vermelhas, são

tremulantes corações.

Os punhos erguidos

são guardados, na noite,

pelas mãos que afagam. - Voltem aos corações!, bradou um outro.

O fundo flamejante do peito,

o calor ansioso e úmido das bocas,

são a nossa melhor chance.

Luciana Cavalcanti
Enviado por Luciana Cavalcanti em 17/05/2024
Código do texto: T8065381
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