A minha casa não é minha
Nasci numa casa abandonada
Onde nada existe para mim,
Tudo existe para um fim
Que faz de mim alma penada.
Já nasci com peso nos ombros,
Cresci no meio dos escombros
A sentir a poeira nos olhos e a noite em pleno dia,
Feito um fruto que sem amadurecer já apodrecia.
Mudo de cor só de olhar o horror
De fazer tudo e não saber qual o sabor.
O vento leva tudo
Nada fica para mim.
Fico assim, sem eira nem beira,
Feito madeira consumida por cupim.
Míngua a minha língua,
Surge uma íngua na minha alma.
Envergonhada por não poder
Fazer nada diante do que desalma
A minha alma vaga, sem vaga,
Sem nada, no fundo do poço
Dessa Pátria que degrada,
Culpada até o pescoço.