O Saco Sem Fundo Tem Que Encher
Agente sente que o fogo é quente
Quando ele está perto da gente.
Indecente, inocente condenado.
Tudo parece nada,
Nada invade a alma navegada,
Impermeável, couraçada pelo nado.
Metralhadoras, fuzis, granadas,
Bombas na cabeça, vida abalada...
Por quê? Esqueça! Deixe que a brasa incandesça.
Pise no pescoço do outro e cresça ou desça,
Porque não há pescoço pra todo mundo
E o largo fosso é fundo, bem profundo.
E o fundo se confunde com a periferia
Onde qualquer som é só alegria
Para os que estão distante do concerto.
Quem liga para os que vivem no aperto.
O que importa é bater a porta
Na cara de quem não tem acesso à horta.
Ah! Está me faltando ar.
Não consigo respirar.
Eu me perdi, não consigo me achar.
Comigo ou contigo não consigo relaxar.
Onde é que eu estava?
Onde é que eu estou?
Qual a música que tocava?
Dela o que em mim restou?
A maldade pega o ônibus nesse ponto.
Meu Deus! Estou meio tonto
Com a imagem da vadia corrente
Para acorrentar gente inocente.
Prevalece o gema quem gemer,
O saco sem fundo tem que encher.
Dois mais dois são cinco.
Tudo está livre nesse labirinto.
Puta que pariu!
Colocaram a minha cabeça no novelo que explodiu.
Fora do vazio não existe nada
Que não esteja dentro da jornada.
Minha cabeça, esbagaçada na bagaceira,
Vê o vento tapar o sol com a peneira,
Brincando de sério e vendendo que o sério é brincadeira.
Filho da puta! Vende o que rende para a turma da cadeira.
Ele atua para esconder os podres dessa feira livre.
Nela o sujeito é objeto e sob o projeto sobrevive,
Livre para voar sem asas e pousar numa cachoeira.
O vento só sopra na direção direcionada na cadeira.
Nesse universo tudo vem de cima,
Para mim nessa selva não há clima.
Tudo rema rumo ao lado que tá enchendo,
Não consigo descrever o que estou vendo.
No mar, no rio e no riacho,
A água anda, manda e desmanda
Conforme o vento que comanda o cambalacho.