PREVISÃO
Condenso cá dentro vozes tão antigas
Mordendo silêncios de chuvas caladas
Que meus olhos sós se ferem de brigas
Citados das novas de paz embargadas.
Embargo de paz vingança de guerra
Desertos de vida sobrantes do fogo
Lançado nos mares cruéis desta terra
Queimada à sorte num tapete em jogo.
Estropiadas gentes procuram buracos
Comboios de vento para se acalmar
Uns levam consigo crianças em cacos
Outros têm nas chagas larvas a criar.
E não há chuva, não há sol, e nada há
Que amaine a dor da terra ressequida
Que cure as feridas do mundo e quiçá
Nos traga a todos da vida esquecida.