Imbecilírico

Como pode?

Como pode!?

Meu coração já se cansou das coisas que sentiu

Meu ouvido, das que ouviu

Meus olhos, das coisas que viram e que prefeririam ter ido a ponta de uma faca, do que gravar e reprisar mais uma vez, na fina linha da memória, aquilo

De novo

E de novo e de novo...

Eu vou ser sincero

Vou ser de coração

Já disse coisas terríveis

Já fiz coisas piores ainda

E sei que nada me é direito

Mas nada também me é merecido

Não isso, ao menos

E já fui hipócrita

Pra ser honesto, sou todos os dias

Nas pequenas ações que parecem não acarretar em nada (por que sou eu que as faço), mas no fim do dia, transformam-se em dor e em tudo o que não presta

Sou bobo de querer ver o outro lado?

De procurar razão em ação irracional?

De procurar sentido em loucura?

O certo em errado?

O caminho no labirínto?

Não pode ser

Não pode...

Eu queria poder entender as coisas

Mas não entendo nada

Todas essas caixas mágicas, onde habitam magias inexplicáveis

Na arte, na ciência, em mim, em você...

Todos cobertos por caixas-pretas

O que há por trás do mecanismo? Ninguém sabe.

Poucos se atrevem a saber...

E entramos em conflito

Pois para um A não é igual a B

E para outro é

E para outro ainda, é tudo relativo

E então se cria um ódio mútuo em meio ao ócio improdutivo dessas discussões onde ninguém vai a lugar nenhum

Vocês não querem saber o que há por trás do mecanismo

Vocês querem que o de vocês seja o certo

O correto

O único

E eu que passei e passo pela minha vida

Procurando enxergar o que há por trás das tantas diferentes caixas

Fico quieto

Me retiro

Me envergonho de pertencer a mesma espécie!

Me enjoo de saber que as coisas mudam de um dia pro outro e que todos (até eu, eu admito) olham pro lado errado das coisas

Como pode?

Como pode?!

Um ser de tanta inteligência reduzido a menor das importâncias:

O poder e a fama

Não há nada depois daqui (digo quase que com certeza)

E vocês estão manchando suas vidas com o desprezo pelo agora, a ambição pelo futuro e a morte do passado

E aos que escrevem e relatam cada coisa, como eu

Não se sintam especiais

Vocês também sofrem da mesma doença

Mas continuem

Continuem escrevendo, escritores!