Sem Nunca Ter Aberto os Olhos - Um poema contra o aborto

Envenenado enquanto sorria

Para a luz que atravessava

Os tecidos da barriga

Broto de bambu queimado

Para que sobreviva a floresta de incendiários

Queimado enquanto vive a floresta pragmática

Tua mão, tão pequena,

Botão de uma rosa silvestre

Ninguém a segurou, não foi?

Somos oito bilhões e

Ninguém de nós segurou

A tua mão enquanto você despencava

Na noite mais escura

Dessas que tantas acometem

As almas dos homens

Alguém imaginará

O que você poderia ter sido

Que caminhos e abraços você fluiria

E o filme se repetirá

Nas noites mais escuras

Dessas que tantas acometem

As almas das mães

que desistiram

E será tarde demais

E a pessoa dormirá e acordará

Com este edredom, "tarde demais."

Tarde demais,

Tarde, muito tarde

(Pois quando apagamos uma estrela

Tudo o que resta é a escuridão)

Teus olhos nunca chegaram a se abrir

O Universo, esse jardim de

Incredibilidades fulgurantes

Esse jardim que seria teu como é meu

Você nunca o viu

Ente guardado num ente

Apunhalado num ente,

Ente descartado, promessa

Abortada

Sem nunca ter aberto os olhos

Nos perdoe a loucura, o mar o oceano

De loucuras

Que levaram até teu fim,

– Civil a quem a civilidade

Negou civilização –

Até o assassinato de um começo

– De nosso começo, mãe