Periféricos
O céu estava azul,
A luz do sol intensa,
E antes de sair,
Ao Senhor Jesus,
Pedi a benção.
Criado na favela,
Em meio a violência,
Revista era diária,
As mãos ao auto,
Corpo ao asfalto,
Sem resistência.
Na comunidade,
Escola pública,
É condão,
Lá é dualidade,
Pois a fome é realidade,
Merenda é existência,
E bala perdida,
Nossa própria extinção.
Sem armas,
Nem granadas,
Comunidade está em guerra,
É tanto malfeitor,
Que se arrastam,
Entre as vielas.
São muros,
Barricadas,
O rifle apontado,
São pipas,
Papagaios,
Escutas,
E sentinela.
A lei,
Quando invade,
Desgasta a biela,
E surge um rio de sangue,
Política do pão e circo,
Nas telas em destaque,
Rende mais,
Que telenovelas.
É o genocídio preto,
Do pobre,
Favelado,
Problema social?
A guerra é entre eles,
Mas nós somos culpados?
As velas derretendo,
Sem destaque em aquarelas.
Outra criança morta,
O trauma,
É sequela,
Somos criminalizados,
Em estado paliativo,
E por qualquer um dos lados,
A morte nos espera.
Hoje é meu dia,
Bala achada,
Nunca perdida,
Um tiro na cabeça,
Outro no coração,
Dois outros na barriga.
Do crime,
Pelas costa,
Dois tiros,
Covardia,
Três outros do Estado,
Eu tava de passagem,
Trabalho me espera,
Levaram a minha vida.
A arma foi forjada,
Imagens estão perdidas,
Câmeras apagadas,
Agora,
Pela história,
Alvejado pelo crime,
Troquei tiro com a polícia.
E me tornei vilão,
Duas crianças órfãs,
Mulher em desespero,
E o que pensar agora?
É no sustento da família,
Sem indenização do Estado,
Pois os engravatados,
Buscam paz,
Em delicadas rotinas.
Essa é a psicografia,
De mais um inanimado,
Vítima do descaso,
Do crime e do Estado,
Um,
Entre os flagelados,
Destas periferias.