LEIS PARALELAS

No morro o grito da nega ecoa

Em desespero ela grita por socorro

O malandro chegou invocado

perdeu tudo no carteado

ele chegou já no clarão do dia

xingou a nega de vadia

ela sentiu a cama sacudir

ele gritava dizendo

que isso não era hora de dormir

O malandro descontava sua ira na nega

com seu bafo de cerveja

no nariz traços de cocaína

ele apagava fogo com gasolina

ele batia nela como seus antepassados

apanhavam nas senzalas

que eram às antigas favelas

alguns vizinho saíram em socorro

mais existem algumas lei no morro

são leis paralelas

No morro não pode subir polícia

quem manda são às facções

ou às milícias

Então por mais que

da nega

sintam pena

no morro , não vigora a Lei Maria da Penha

correram então e pediram permissão

pra falar com o patrão

Ai levaram o malandro pro debate

levaram pras idéias

o malandro tinha um certo conceito

por isso não foi posto em xeque

com o chefe ele fez um acerto

O cara só foi advertido e ficou de boa

pra nega de vida sofrida

sobrou lamber as feridas

O malandro se jogou na cama

dormiu de cansaço

a nega maquiou a cara

disfarçou as agressões sofridas

foi pro seu trabalho de diarista

porque no prato

ela é quem põe comida

Mais ela está cansada dessa vida

de ser uma mulher negra

que mora num morro

com uma justiça paralela

que vive num abandono social

que só tem momentos de alegria no carnaval

pra ela já deu , quando ela voltar

pro seu barraco

ela fará algo diferente

Ela sabe que tudo está errado

mesmo assim

ela fez um pacto com Diabo

passou num mercadinho do bairro

e comprou veneno de rato

Ela sabe que depois que o malandro dorme

ele acorda com fome

ela faz isso e depois do morro ela some

NEREU AIRTO AMANCIO FILHO
Enviado por NEREU AIRTO AMANCIO FILHO em 25/01/2024
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