expressão

Tenho medo das pessoas que calam

Daquelas de silêncio interior profundo,

afótico.

E espreitam para esfaquear pelas costas,

para armar tocaias.

Tenho medo das pessoas que vestem a máscara

do mistério

E sob a penumbra da noite,

elaboram intrincado movimento,

malabarismos inimagináveis.

Tenho medo desse medo.

Emudece-me, paralisa-me, emburrece...

Faz da torre de marfim, a torre suicida.

da cancela da vila, um fio de navalha

a separar mundos e intenções.

Os que calam, negam-se a franqueza da palavra,

do gesto.

Negam-se a fraqueza das semânticas ambíguas,

das frases atropeladas pela emoção,

dos períodos cíclicos com erro de regência verbal.

Quem cala, recebe a chibatada das rédeas,

dos ventos

Quem cala não ouve as vozes intrínsecas dos ventos

a confidenciar o que guardam os recantos,

as frestas e

os descaminhos.

Mas às vezes os que calam,

foram roubados.

Violentados pela dor de sobreviver...

Sobraram-lhe apenas os olhos,

as lágrimas e, a memória muda

enterrada no peito.

As vezes quem cala traz dentro si

a ilusão bastarda, libertina e confusa

De todos o entenderem, sem nada falar...

de ter pactuado uma cumplicidade absurda.

E, no cristalino dos olhos anteverem o futuro,

Ver o outro, com os olhos de outrem.

Ver-se sem espelho,

só com o reflexo da outra alma.

As vezes quem cala, faz do medo imposto,

sua defesa, sua fortaleza inexpugnável.

Atrás dos canhões do silêncio,

há sempre uma emoção perdida

em busca de compreensão e abrigo.

Quem cala, espera a palavra,

Como o deserto que

espera o orvalho da manhã .

espera o primeiro raio da manhã

a romper o dia.

Para os que calam ou

os que falam

há compromisso com a expressão.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 31/12/2007
Código do texto: T797883
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