Buraco
aqui do fundo se vive na vida
é um mundo escuro todo dia
uma noite eterna na avenida
o açoite vem dum fado na via
parece o fim duma existência
mas é o início da ideia abatida
um caso aparte com dolência
nessa odisseia sem despedida
a fenda chega como moradia
do ser farto de contrapartida
dessa saga torpe da biografia
nesse buraco sujo da partida
aquele ego infame se afunda
na solidão de uma aparência
é o riso por traz de uma onda
a vaga na alma com carência
tudo isso para esconder a ida
a dor que trouxe na ventania
esse vazio no eco duma saída
da senhora dona da caligrafia
De
Marcondes Schifter
Poeta & Jornalista