SOBRE POVOS E SOBRE SANGUES

Somos um povo de multifacetárias origens,

Cujas raízes se espalham por muitas outras terras,

O sangue da expropriada África,

Veio aqui se misturar em malditas bodas,

com o sangue da Expropriadora Europa,

E os dois juntos, miscigenados,

Ao sangue do nativo dominado,

Construíram o sangue do continente americano,

Que no Sul ficou, igualmente, expropriado.

Argentina, Bolívia, Paraguai,

Peru, Venezuela, Chile, Colômbia,

Equador, Brasil, Uruguai,...

Este é o nosso povo sul-americano,

Sofrido povo de sofrido sangue,

Foi constituído a custa de fatais estupros,

E que foi dividido por fronteiras,

Para ficar cada vez, mais fraco.

E sobre nós recaem as penas,

De seculares crimes que não praticamos,

Mas de cujas consequências, somos vítimas!

Nossos avós estão perdidos no tempo,

Enterrados, talvez, em algum vale profundo

destas planícies regadas por suas lágrimas,

Ou nestas montanhas que emolduram suas dores!

Ou talvez, seus ossos se encontrem, hoje, ao relento,

Comidas que foram, suas carnes, pelas aves de rapina.

E os avós de quem hoje, ainda, é senhor,

Repousam calmamente, tendo por guarda

a sombra de grandes ciprestes,

Em luxuosos mausoléus de mármore, prata e ouro,

Construídos por escravos, sob chibatadas de couro.

A miserabilidade dos povos sul-americanos,

É como um coração apunhalado,

Que, agonizante, clama ao assassino,

Por clemência ou pena, talvez, mais branda,

Que acalme a ira secular dos saques,

Que transformou um paraíso de ouro,

Em terra morta onde não brota nada.

Até pode brotar, mas não a planta justa e perfeita,

A planta que haveria de alimentar a posteridade,

E cujas raízes produziriam enorme e frondosa copa,

Da árvore da Liberdade, na qual viveríamos, abrigados,

Todo nós, os povos sul-americanos,

Sobre o mesmo solo, carregando nas mão raios de luz

e sob a unidade da mesma bandeira de paz e liberdade.

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 03/01/2024
Reeditado em 03/01/2024
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