Natal, falta de conexão
Ganhei uma bola colorida em um antiquíssimo natal
era uma raridade, só durou uma hora, única
O Chicão chutou, acertou a cumeeira do rancho
pau a pique do sertão
e lá ficou por dias no alto e murcha
exposta, Natal sem sorte.
Os anos passaram e com tempo pude entender
Natal não é magia é uma cria
desta gente consumista, exibida
e a data foi desviada da função.
Todo Natal tinha festa, presentes
era uma esperança, talvez uma bola
tinha nono e nona, tios, pais, primos e irmãos
Amigos, parentes
Hoje não, perdi a conexão.
A crença é ilusão, muitos deles partiram
outros não, continuam por aí
apegados aos panos, mesa farta
alegres por fora,
vazios e indiferentes por dentro
Enquanto o filho do vizinho chora
sem leite, sem teto, descalço, sem pão.
Ostentam até o que não tem
bebem, comem empanturram-se
e as vezes distribuem migalhas
para apaziguar a consciência
filantropos de ocasião, e oram rezam
alma lavada, quem sabe salvas
mas continuam cegos, não enxergam, não entendem
que este dia deveria ser de reflexão, de partilha, compaixão
amor ao próximo com ênfase, corrigir as mazelas
contribuir, agir com justiça, fraternidade, solidariedade
Ah Natal! Não dá mais!
Não tenho conexão.