A voz das ruas

Há uma carência de ir pelo asfalto desfigurado,

de tropeçar nos paralelepípedos desnivelados,

de conhecer os altos e baixos das calçadas.

Esmiuçar cada residência com sua típica estrutura,

permanecer absorto imaginando seus cômodos.

O ato de esbarrar com um indivíduo

gera o desejo de ler sua alma.

Há uma urgência de sentir as coisas.

Meus passos me deslocam para um lugar ermo;

deixar a inércia de lado abranda alguma deficiência.

A matilha que passa em polvorosa,

esse motoqueiro que faz rugir o escapamento,

esse semáforo que emite suas luzes: Pare e Siga!

A confusão de incontáveis cores, sons e aromas,

minha mente chacoalha desenfreada.

A vida agoniza severamente nos núcleos urbanos.

Décadas da bilionária expansão tecnológica,

resulta neste amargo distanciamento humano.

Ar se tornando artigo de luxo,

a poluição reina absoluta.

Notório descaso - marca registrada das ruas,

caos que formata o raciocínio de todos.

Como a violência é tão comum…

Borbulha a água imunda do esgoto.

Os muros criticam a decadência humana;

dos quatro cantos reverbera uma abominação.

Batemos panelas sem perceber que somos desafinados.

Vai e vem insano que devora as horas,

carregamos pesadas cruzes com o intuito de ganhar um galardão.

Por quê o capital enriquece pouquíssimos e empobrece milhares?

Essa tempestade encarcerou o azul do céu,

essa pandemia abriu uma infinidade de covas.

Quanto maior for os decibéis nossa surdez será mais evidente.

A corda impiedosa vai ficando apertada no pescoço,

meu corpo moído busca uma saída deste pesadelo.

Alessandro Swinerd
Enviado por Alessandro Swinerd em 21/12/2023
Código do texto: T7959075
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