A voz das ruas
Há uma carência de ir pelo asfalto desfigurado,
de tropeçar nos paralelepípedos desnivelados,
de conhecer os altos e baixos das calçadas.
Esmiuçar cada residência com sua típica estrutura,
permanecer absorto imaginando seus cômodos.
O ato de esbarrar com um indivíduo
gera o desejo de ler sua alma.
Há uma urgência de sentir as coisas.
Meus passos me deslocam para um lugar ermo;
deixar a inércia de lado abranda alguma deficiência.
A matilha que passa em polvorosa,
esse motoqueiro que faz rugir o escapamento,
esse semáforo que emite suas luzes: Pare e Siga!
A confusão de incontáveis cores, sons e aromas,
minha mente chacoalha desenfreada.
A vida agoniza severamente nos núcleos urbanos.
Décadas da bilionária expansão tecnológica,
resulta neste amargo distanciamento humano.
Ar se tornando artigo de luxo,
a poluição reina absoluta.
Notório descaso - marca registrada das ruas,
caos que formata o raciocínio de todos.
Como a violência é tão comum…
Borbulha a água imunda do esgoto.
Os muros criticam a decadência humana;
dos quatro cantos reverbera uma abominação.
Batemos panelas sem perceber que somos desafinados.
Vai e vem insano que devora as horas,
carregamos pesadas cruzes com o intuito de ganhar um galardão.
Por quê o capital enriquece pouquíssimos e empobrece milhares?
Essa tempestade encarcerou o azul do céu,
essa pandemia abriu uma infinidade de covas.
Quanto maior for os decibéis nossa surdez será mais evidente.
A corda impiedosa vai ficando apertada no pescoço,
meu corpo moído busca uma saída deste pesadelo.