ROSA DA PALESTINA
Derrubaram as oliveiras que choram
Que pranteiam as lágrimas de oliva
E gorjeiam aos prantos o seu pesar
Encobriram o sol com a muralha
A cortina "estúpida e inválida"
O tentilhão já não pode mais voar
Ao som estridente do bombardeio
O canto taciturno e etéreo levantino
Das vozes que insistem em silenciar
As luzes que rasgam o céu noturno
A nuvem cálida do fósforo branco
O cheiro de morte que paira no ar
As flores rumam ao cortejo funéreo
A poesia sublime e imutável das almas
De corpos silenciosos à beira-mar
A bruma do abismo das coisas inexatas
O grito de lamento que sussurra ao vento
Do rio Jordão ao Mar Mediterrâneo
O ritmo de um coração que já não pode mais cantar...
LEGENDA
O TÍTULO DA POESIA FAZ REFERÊNCIA AO POEMA DO POETA BRASILEIRO VINÍCIUS DE MORAES (1913-1980) "ROSA DE HIROSHIMA", ESCRITO EM 1946, PUBLICADO NO LIVRO "ONTOLOGIA POÉTICA" EM 1973 E MUSICADO POR GERSON CONRAD DO GRUPO MUSICAL "SECOS E MOLHADOS" EM 1973
"OLIVEIRA" É A ÁRVORE QUE FAZ PARTE DA FLORA E DA CULTURA PALESTINA, QUE ALÉM DE SER SÍMBOLO CULTURAL, SE TORNOU UM DOS SÍMBOLOS DE RESISTÊNCIA DO POVO PALESTINO
O TRECHO EM QUE CONSTA "ESTÚPIDA E INVÁLIDA" É UMA REFERÊNCIA AO TRECHO DA POESIA DE VINÍCIUS DE MORAES "ROSA DE HIROSHIMA"
MURALHA FAZ MENÇÃO AO "MURO DA CISJORDÂNIA" E "CORTINA" É UMA REFERÊNCIA AO TERMO "CORTINA DE FERRO" USADO NA GUERRA FRIA
"TENTILHÃO" É UM PÁSSARO QUE FAZ PARTE DA FAUNA PALESTINA
"LEVANTINO" É O DIALETO ÁRABE FALADO NA PALESTINA
"LUZES QUE RASGAM O CÉU NOTURNO" FAZ MENÇÃO AOS MÍSSEIS ISRAELENSES
"FÓSFORO BRANCO" É UMA ARMA INCENDIÁRIA USADA CONTRA O POVO PALESTINO
O TERMO "CORTEJO FUNÉREO" FAZ REFERÊNCIA AO POEMA "NOTURNO" DA POETA BRASILEIRA FRANCISCA JÚLIA (1871-1920), ESCRITO EM 1920
DO RIO JORDÃO AO MAR MEDITERRÂNEO FAZ MENÇÃO AO CANTO DE RESISTÊNCIA "DO RIO AO MAR" (FROM THE RIVER TO THE SEA, PALESTINE WILL BE FREE" (A OCUPAÇÃO SE ESTENDE DO RIO JORDÃO AO MAR MEDITERRÂNEO)