Alforria
Chega de trabalho escravo
A liberdade, finalmente, chegou
A Carta de Alforria foi dada
Alforria que nosso povo sonhou
O negro das senzalas
Senzalas fétidas, encharcadas
Dos porões de celas frias
Celas escuras, imundas, mofadas.
Cenário comum aos negros
Que fizeram nossa história
A história do Brasil
Que registra somente glória.
Sofrimento nunca mais
Chega de sangue derramado
Chega de tronco, de chicote
Dos senhores desalmados.
Que soem os tambores
Vamos comemorar
A liberdade sonhada
Que acaba de chegar.
Mas... o tempo passou
Ei, cadê a liberdade
Que a alforria prometeu?
Negro continua na senzala
Mudança não aconteceu.
Ah, senzala, testemunha de açoites
No tronco, de mãos e pés atados
Libertar-se pode ser possível
Mas permanecem acorrentados.
Acorrentados pela história
De dor e sofrimento
De muito sangue derramado
De tortura, lágrima e lamento.
No canavial, sob o sol escaldante
O suor faz a pele negra brilhar
Trabalho árduo para cortar a cana
Que a vida dos senhores vai adoçar.
Pés descalços, mãos calejadas
Às vezes sem ter onde morar
A senzala continua ali
Esperando o negro retornar.
CHEGA...
Chega de racismo estrutural
Que impera na sociedade
Pois branco, preto, pardo ou amarelo
Não importa tonalidade.
Nestas terras de Zumbi
Minha cor, minha identidade
Negro é gente de brio
Gente de integridade.
Pele preta, preta com orgulho
Pele queimada, resistente
Resistência é nosso lema
Lema de um povo consciente.
Consciente do valor que tem
Neste país da diversidade
A valor da pele negra
Que pede respeito e igualdade
Pois todos são seres humanos
E merecem respeito e dignidade.