O homem médio
Após a ascensão da lama
Entre as grades que cercam sua paz
Habita o animal dócil mais selvagem
O rei desses animais
O médio já viu que o homem
É médio na sua medida
Habita lugar algum
É triste é ele a ferida
Que não vive apenas experimenta
Degusta migalhas
Mas não passa a fome
Que move o mundo
E remove por dentro de sim
Um mostro
Sutilmente gentil e violento
Restrito, deprimido e reprimido
No caos do sistema uma bolha
Aparentemente normal
Pronto pra devorar qualquer um
Por qualquer coisa e pedir desculpas
Sim ele nasce todos os dias
Sombrio incapaz de contemplar as estrelas
Rugindo contra tudo
Perdido no lugar que lhe jogaram
Nem aqui nem lá
Nem erudito nem popular
Médio e já nem vê mais o que perdeu
Que se perdeu
Moderno e médio
Buscando prisões e chamando pela liberdade
Médio e hipócrita
E cego vagando de sandália ou sapato
Médio sofrendo por ter perdido algo precioso
Em nome de que? Da segurança talvez
Médio sempre condenado
Não transpondo a barreira de sua
Mediocridade
Talvez alguma vez em rompantes de lucidez
Médio que se liberte
Peço o preço que pesa nas costas
E a vida que é isso daí
Um boteco talvez ou uma igreja
O nada talvez ou a morte
Quem sabe a coragem
Olhando cara a cara a
Liberdade.