ALÉM DO SOFRIMENTO

Noite fria,
Ela bate os dentes,
E não poderia,
Ser diferente,
Sozinha na calçada,
À espera de alguém...
Que talvez revoltada,
Deixou-a ali, sem dizer nada.

Mas, ela sentada,
Continua a esperar,
Quem sabe outro alguém?
Possa olhar – além do olhar,
E então, sensibilizar,
Com a pobre coitada;
Estender-lhe a mão,
Aquecer o corpo carente,
Alegrar seu coração,
Fazê-la sentir-se gente.

Já é madrugada,
Num banco da praça,
Deitada de bruços,
Ela se abraça,
Ouvem-se soluços,
Talvez sonhe acordada,
Com um anjo que vem,
Antes da alvorada,
E leve-a para além...

Muito além do sofrimento,
Além de toda frieza do ser,
Onde um rio de contentamento,
Esteja sempre a correr...