Cartas à deus

Oh deus!

Eis o teu servo, escravo, filho de um antigo combatente

Escrevo-te com as mais profundas lágrimas de tristeza que escorrem nos meus olhos

Pois a cada dia que passa me é difícil ser teu crente.

Já não acredito em ti

as luzes se apagaram

Transformei-me num pirilampo, iluminando em coros as trevas, os galos que sempre cantaram.

A minha fé foi posta em provas e testes

A vida tirou-me a vida, pondo-me num apocalipse com gritos e ranger de dentes.

Tu parecias ser um ser perfeito no começo

A clareza cobria o teu rosto, quando decidiste mostrar a tua pessoa ao avesso.

Oh deus da terra, que dos céus nada conheces!!

Por que tratas os teus filhos genuínos como fezes??

Atacas a cada dia as nossas barrigas,

estabelecendo uma Democracia Tirana entre operários e burgueses.

Lágrimas escorrem nos meus olhos, quando contemplo esta merda de vida que me deste

Lixo e poeira harmonizam porcamente o meu bairro, ritmando com os mosquitos na minha pele.

Oiço mentiras nas tuas promessas,

Vejo maldade na tua bondade até mesmo quando algo ofertas.

Oh deus!

Estou amarrado em cantos sem paredes

Agarrado à uma realidade míope, onde observo filhos de vermes, morrendo de fome e sede.

Pirilampejo nesta escuridão infinita

Procuro formas de bajular-te, oh todo poderoso para acabar com essa fome maldita que muito incomoda a minha barriga

Mas o meu eu fala mais alto, estando ao lado da verdade

Quero ser um pioneiro da justiça assim como Mahatma Gandhi.

Sob o teu olhar silencioso grito entre os 4 cantos com a minha pobre voz

Galopo nesta cidade de nadas, procurando com a paz comprar arroz.

Oh deus!

Olha o teu povo, invadindo os caminhões de comida

Olha para os teus filhos que nada têm além da vida.

Olha para estes jovens, que se manifestam por uma vida melhor

Olha para as criancinhas com o futuro cada vez pior.

Oh desgraça da minha vida, quem me gerou proletário??

O que faço nestas terras com terras com o sonho de ver os meus pecaminosos pés, pisando no asfalto??

O que faço neste teu reino de paz com tiros?!

Mortes em todo lado,

liberdade só nos sonhos molhados, amor só nas novelas,

oração nem nas capelas,

olhares são catervas.

Oh deus!

Os teus actos diabolizam a tua pessoa

Os teus caminhos levam à perdição

As tuas palavras ferem o coração

E as tuas graças matam com seca e pobreza os pobres sem pão.

Twenda Kovasso
Enviado por Twenda Kovasso em 28/10/2023
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