IGUAIS
Sociedade camuflada:
À beira da estrada
Não existe quase ninguém.
Embaixo do viaduto,
Embaixo da ponte,
Quase não existe ninguém.
Não existem favelas.
Tudo caminha tão bem
Nesse país chamada Brasil.
Este é o país maravilha.
Não se prende quadrilha
Que tem capital,
Apenas manda para o xadrez
O sem teto,
O sem nada,
O sem-terra,
Nesta terra tão igual.
A injustiça faz sua justiça.
Aqui é a cobiça
Do grande capital.
Aqui sempre está entrando
Uma grande multinacional.
Este é o país legal.
A ilegalidade anda solta.
O velho pobre não se aposenta nunca,
Mas o rico rouba milhões
Da “Assistência Social”.
Aqui a pirâmide funciona.
Aqui é um paraíso fiscal.
Tem até o melhor carnaval
Para o pobre sonhar grande
E viver a vida inteira na miséria.
Todos aqui “são” iguais.
Todos “têm” capitais.
Têm liberdade de ir e vir,
Só não têm dinheiro para sair.
Este povo é brasileiro.
Este povo é hospitaleiro,
Aceita todos chegaram e entrarem
E nos comandar o tempo inteiro.
Aqui não se tem guerras.
Aqui se tem a maior desigualdade social do mundo,
Mas as pessoas são felizes assim mesmo.
Somos cristãos e seremos salvos;
Isto é o que importa.
Já garantimos nosso lugar ao lado do Senhor.
A “esperteza” neste país é virtude,
Só que a grande maioria de sua população
Já foi vítima dela e se deu mal.
Ela ajuda alguns em detrimentos de muitos.
Brasília - DF, 1996.