Pressão nos Olhos

 

A pressão

Nos meus olhos

Norteia o meu protesto

Em plena avenida

De um domingo inquieto.

 

Essa pressão inunda o que vejo

De tanta revolta e lamento

Que prezam para toda gente,

Pois então, corro atrás de uma mudança

Silenciosa, vagarosa e potente.

 

Sonho demais com os braços dados ao Brasil

E ao mundo que norteia meu incômodo com o descuido

De quem não percebe o que faz para o todo

Ao ignorar as chamas da vida como louco.

 

É à vida plena e direta

ao experienciar minha descoberta

Não mais coberta

Ao acharme defeituosa

Por cada lágrima escandalosa.

 

Tanto sofoquei que não aguentei.

Tantas vezes que chorei

Sem poder ter chorado

A quem me tratou na indiferença

De um ser sem perceberme sensibilizado.

 

Como viver nesse mundo com tantas tragédias e violências?

E se há uma forma de eu fazer diferença,

Qual é? Como?

Por quê eu me sinto convidada a tentar fazer algo?

Por quê me importo?

Até que ponto realmente posso ajudar?

 

Então, essa pressão nos meus olhos

Da tristeza que sei que sinto do que vejo

E da tentativa de compreender o tempo vagaroso

Ainda que considere minha raiva totalmente,

Possa ser concretizada em uma possível ação

Para que meus olhos não doam tanto mais assim.

 

Doi ver tanto, sentir tanto e não saber o que fazer com o que vejo.

 

Silêncio obscuro de um mundo sombrio que é incoerente

De uma forma que eu não quero mais subestimar.

 

É sobretudo, um mundo que pego carona na garoa

Por vezes chorando na varanda ou rindo a toa

Chamando e clamando

Por mais amor no mundo a favor da vida

Em nós

Pra fluir de dentro pra fora e de fora pra dentro

Para que, nesse movimento, consiga responder à minha sensação de pressão e impotência

De um jeito que na medida do possível eu satisfaça a mim mesma,

A humanidade comovida

E a Deus que se presentifica.

 

Poesia feita pensando no meu glaucoma.

Beatriz Nahas
Enviado por Beatriz Nahas em 17/10/2023
Reeditado em 02/11/2023
Código do texto: T7910938
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