ORAÇÃO BOÊMIA

Há uma vertente em cada copo,

uma cidade, uma pessoa.

Atrás de cada um, o mundo,

vertendo, correndo...

Detrás desta mesa há fronteiras,

que nos separam por carteiras,

por “tarjetas”, por burrice!

Há por trás, por cima, por tudo,

cadeias que nos acorrentam;

flores despetaladas, sem sorriso,

sem cor, flores que choram.

No fundo não às vemos!

Na escuridão, tudo é negro.

Necessito de um foco de luz,

preciso ver a luz!

Preciso ver uma flor

e sorrir!

Empunhá-la!

Dela fazer bandeira,

por fogo na fogueira!

É preciso espalhar a luz,

alimentar os corações

com a flor, com o belo,

com sorrisos de mudança!

Hoje vejo focos, vejo luzes.

Ainda é noite, mas desponta o dia.

Não mais veremos cadeias,

caminharemos livres, soltos.

Deslumbraremos o que nunca vimos,

o que muito imaginamos;

estrelas que existem, e vivem

e luzem – delas recebemos a luz,

a certeza de que tudo leva à fonte.

Diante desta mesa, detrás deste copo,

detrás de mim e de ti, de todos nós,

não existirão fronteiras, e “tarjetas”,

e burrices!

Bebo hoje, por isso e por nós.

Amanhã acordarei feliz.

Sei que não estou sozinho.

E lutarei, erguendo os braços

rebentarei as correntes,

e levarei lenha pra fogueira,

juntamente contigo, com todos.

AMÉM!

05/09/1985