É JUSTO? (4) - O pão nosso de cada dia
Garimpar imagens na imensidão da internet e compará-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema "O Pão Nosso de Cada Dia". As imagens podem ajudar na compreensão de textos, podem? Elas podem falar mais que os textos. Às imagens e ao poema!
MESA FARTA
MESA EM FALTA
O PÃO NOSSO DE CADA DIA
As sagradas refeições de cada dia
Devem ser partilhadas
Como foram partilhadas na Santa Ceia
Do penúltimo dia entre nós
Do Mestre que semeava palavras
E multiplicava alimentos.
As palavras semeadas
Nos dizem à alma sobre a nossa real
E necessária transcendência
Dessa dura via crucis
Das nossas (in)humanas condições.
O pão partido e repartido
Em igualitárias proporções
Nos diz que é possível transcender
Quando, em igualitárias condições,
Repartimos
O que de melhor produzimos,
Para o corpo
E para a alma.
A real e humana condição se consuma
Apenas quando somos postos
E expostos
Em desinteressada e verdadeira Comunhão,
Quando irmanados entendemos
Que o fruto da terra
E do trabalho que nos humaniza,
O nosso alimento (pão e vinho),
Carrega o suor do rosto, a energia
Dos corpos em movimento,
As alegrias e tristezas
E os sonhos também,
De cada ser humano que ceifou o trigo
E pisou cada cacho de uva.