É JUSTO? (5) - Água: um poema à consciência
Garimpar imagens na imensidão da internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema "Água: um Poema à Consciência", que fiz em homenagem ao povo de semiárido brasileiro. As imagens podem ajudar na compreensão de textos, podem? Elas podem falar mais que os textos. Às imagens e ao poema!
ÁGUA: UM POEMA À CONSCIÊNCIA
Zildo Gallo
Desapercebido cidadão,
Anestesiado cidadão,
Próspero e pacato cidadão,
Com que direito lanças nas águas
Os teus restos intestinais,
Restos de finas iguarias,
Sem ao menos te incomodar
Com que a tua urbe não as purifique
Para que abaixo outros como tu,
Também desapercebidos, anestesiados
E pacatos cidadãos,
Possam apanhá-las
E usá-las como usas,
Incomoda-te cidadão!
Despreocupado cidadão,
Egocêntrico cidadão,
Cuja montanha de abundâncias te impede,
Como um denso véu,
De enxergar do outro lado
O menino que escava o árido solo
À procura do líquido escuro,
Fétido
E salobro,
Única via para saciar a secura
Da sua sede miserável,
Enxerga cidadão!
Sossegado cidadão,
Acomodado cidadão,
Que ao girar da torneira
Enxerga e ouve
O doce jorrar do líquido,
Pequena cascata transparente,
Inodora
E sem sabor,
Nem imaginas que muitos outros
Cidadãos como tu
Caminham léguas e léguas,
Em rotineira saga,
Na busca do diamante líquido,
A maior riqueza da Terra,
Nosso Planeta Água,
Condoa-te cidadão!