Desolado
O mendigo, assim chamado,
Que é ser humano do mesmo jeito,
Tem peito de aço,
Mas dorme ao relento.
Tem sangue de ferro,
Mas não tem comida nem prato.
Com a vida amarga,
O suor amargo na roupa
E a destreza de um corpo errante,
Segue:
Com olhos de diamante
Que brilham entristecidos e duros,
À procura de uma esperança
— se é que ela existe —
Ou de um abraço social inexistente.
Ninguém sabe sobre o destino
Que a vida traz a cada um
Neste mundo;
Nem a causa, a circunstância
Ou uma escolha inesperada.
Mas todos sabem que têm
Um lar coberto e aquecido,
Um alimento que sustenta
E uma sociedade que abraça.
Mendigo de voz baixa — quase silente —,
Mas de apelo gritante.
Recebe em troca uma prata
Forçada e fria,
Uma realidade fria.
Em meio a arrependimentos
E aprendizados,
Nasce a vida,
Morre o dia,
Segue a sina,
Só o mendigo fica.
Meus olhos desolados ficam.
E no fundo,
Cada um de nós se esconde.
Cada um de nós.