GERMINAL (poema proletário)*

Hoje nos roubaram a Lua

e, calados,

ensonados,

esperamos na calçada fria

a primeira lotação.

A última estrela no horizonte

lembra-nos

de que já não sonhamos mais.

O primeiro apito

da primeira fábrica

é um chamamento...

para drenarmos nossos sangues,

nossas almas...

para as tubulações

da grande caldeira social.

E, assim, tísicos,

semimortos

e mortos,

seremos o esterco

que fará crescer a magnífica videira

do nosso feitor

na nossa post mortem.

Post mortem: um pouco de latim

só para lustrar nossa desventura.

 

Zildo Gallo

Americana, SP, 01 de novembro de 1981

Campinas, 1º de maio de 2017 - Diretas já!

*Lembrando Emile Zola aqui nos séculos XX e XXI.