Bestializados

Silêncio!

Armas apontadas em toda e qualquer direção,

Com a foice afiada,

A morte aguarda,

E no cheiro de ferro,

Existe a satisfação.

Um rio de sangue,

Que escorre por entre becos,

Balas revoam,

E acertam,

Aqueles que vêem primeiro.

E na escuridão,

Qualquer gato é pardo,

E todo vulto é inimigo,

Um estampido,

Cheiro de pólvora,

Um trabalhador,

Depois de morto,

Vira inimigo do Estado,

Assume um hall de bandido.

Cidade sitiada,

Mais um que foi atingido,

O giroflex ligado,

Ninguém sabe se é polícia,

Ou mais um qualquer,

Da vida banido,

Por um lençol coberto,

Mãe chora,

Diz que filho foi bom cidadão,

Trabalhador,

E nunca teve inimigos.

Uma guerra sem fim,

Expõe todos os defeitos,

De quem vive nos extremos,

Poder em decadência,

Leis arbitrárias,

Favorecem a privilegiados,

Aquele que tem mais,

Domina o que tem menos.

Não sabemos viver sem o domínio,

Defendemos ladrões,

Corruptos e assassinos,

O perdão,

A regeneração,

Só servem e é aceita,

Para quem está no pico,

Nos olha do alto,

E se sensibiliza,

Pela ausência de discernimento,

"Pobre povo perdido"!

Não desejamos o mal,

Mas o aceitamos,

Recriamos o que denominamos de caráter,

E a outros,

Vamos moldando.

Devastamos mares,

Florestas e lares,

E sempre nos justificamos,

Tudo a favor da humanidade,

E de volta a caverna,

Sombras vão nos governando.

Minha fé abalada,

Não acredito nessa tal sociedade,

Elas recriam as verdades,

E nós,

Os bestializados,

Aceitamos,

E vamos concordando,

Aceitamos de bom grado,

Toda nossa mediocridade.

Outra vez peço silêncio,

Não pensem,

Tem alguém por aqui passando,

Paredes não me protegem,

Novamente o cheiro de pólvora,

Sinto o gosto de sangue,

O meu peito está queimando,

Serei eu o herói ou o marginal?

Não há tempo para pensar,

Anjos estão me guiando,

Volto ao início do verbo,

"Fiat lux",

Nova vida me esperando.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 08/08/2023
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