Vai e vem.
Trabalho começa
Alvorada do dia
Clientes à espera
Noite mal dormida
Acorda cansada
Já? É jornada
Vai, vem
Vem, vai
Homem está só
Da pobre menina
Judia que haja dó
Tapas no corpo
Marcas na face
Entre as pernas?
Vai, vem
Vem, vai
No marasmo de um prazer desvalido
Soa o orgasmo
Um discurso político
Moça gemendo e gritando
A quem mais está pagando
Vai, vem
Vem, vai
É segunda-feira
Dia da folga
Depois da aurora
Até não recorda
Dos Joãos, Marcos, Clarisses e Auroras
Companhias de outrora
Traz o sustento do lar
Onde mora com a vó
Que para almoçar
Faz arroz, galinha e bobó
Recebendo o dinheiro
Coração cheio de dó
Vai, vem
Vem, vai
Amanhece
Acorda a menina
Lembra o que desconhece
Os tempos de menina!
Brincar de boneca
Barra-bandeira
Roda, peão e botão
Subir na trepadeira
Sorrisos de montão
Saudades da infância que não viveu
Pobre! Sua infância morreu
Chora de desengano
Aos seus nove anos
Mas, como diz Vinícus
E o maestro soberano:
"Chega de saudades"
Trabalho vem chegando
E vida vai passando
Dinheiro vem,vem
Infância vai, vai.