Abatedouro

(Poema Protesto)

Apenas uma senhora

Para ser eutanasiada

Aguardando a sua hora

Até ser anestesiada

Maria amava a vida

Mas tinha esquizofrenia

Então foi convencida

A por fim na sua agonia

Pedro frequentava

A escola todo o dia

Mas de nada adiantava

Ele nunca aprendia

Seres invisíveis

Ao Estado, à sociedade

Frutos irreconhecíveis

Da marginalidade

A seleção natural

Faz sua vista grossa

Que o Estado endossa

Numa injeção letal

A família amorosa

Exerce o desapego

Descartando, saudosa

Quem perturba o sossego

Gabriel tem otimismo

Apesar dos familiares

E dos estranhos olhares

Pelo seu "mongolismo"

Luana é desatenta

E está sempre atrasada

Ela sempre tenta

Mas todos dão risada

Daniel fala errado

E acham que é burrice

Nesse ano, foi reprovado,

Mas que esquisitice!

Ana não consegue

Encontrar uma profissão

Esse fantasma a persegue

Ela entrou em depressão

Felipe é infantil

Mas tem barba no rosto

Todos o chamam de imbecil

Sua mãe só tem desgosto

É tanta gente

Na fila da eutanásia

Haja veneno potente,

Mandei vir mais da Ásia

Cristãos defendem a vida

É o que a religião prega

Hipocrisia escondida

Não mata, mas segrega

Os mansos herdarão

O reino dos céus

Mas aqui só sofrerão

No banco dos réus

A genética seleciona

Quem merece viver?

O Estado sanciona

Sua escolha de morrer?

Salvamos o que presta

Sua carcaça vale ouro

Mandamos o que resta

Direto para o abatedouro