A FOME
A Fome, esse ser alienígena,
Vem montado num corcel negro
Causando esgares, esse estigma,
Traz-nos horror e mete medo!
A Fome, esse garfo bifurcado,
Tritura e faz ranger os dentes;
Corrompe as entranhas do corpo
E maltrata a alma da gente!
A fome é uma doença, é miséria!
Antes, dá vertigem, angústia, ânsia...
Logo, percorre moléculas e vísceras,
Depois dá raiva e até cãibras.
A fome nos causa espanto,
Tontura, moleza e fadiga;
Nos deixa molengas num canto,
Com efeito, eu que o diga!
A fome mora nos lares,
Nos lábios, nos rostos, nas feiras...
Está estampada nos olhares,
E procura um trocado na algibeira!
A fome não tem nome nem sexo,
Não tem partido, cor ou religião;
Não tem moral, e se manifesta
Na mais torpe da corrupção!
A fome não tem dignidade!
Não dá pra segurar Sua náusea.
Com fome se mata, se rouba...
E sabemos qual a sua Causa.