AVE MARIA MORTA
Mãe! Mãe! ...Nenhum submisso chama-se de filho,
Nenhum crucifixo derrama lágrima pelo carinho vindo de uma lápide.
Tudo vaga num sentimento em recesso, nos pássaros ressuscitados,
No toque de milagre ao que se clama salvador.
Aquele que há de ter alma terá medo!
Os que hão de colocá-lo sob o mesmo teto carregarão efêmeros suspenses.
O poder não é só para o bem, os anjos não governam somente o céu.
Amordaçados pecados que á maternidade não convém. Maltratados, jogados...
“Isto não é ser pai meu Deus!”
É só um princípio sem fim, coletânea de evangelhos a professar.
O que significa na pele sentir sem mesmo ter a mesma pele?
Magistral é ver pelas íris sem cor os gestos cegos descoloridos.
“Não te expressas, te calas, não te ajoelhes”...
...És toda a força deste menino.
Ensinai desde já que os cordeiros são brancos porque a eles o bom pastor quem vinga.
Que a humanidade vai prestigiar ainda ausente, porque a sociedade alarma e desavisa.
Que tu és só personagem de momento, mulher de muitos e pureza odiada.
Que as coisas da vida és tu quem balança até sentires o divino desequilíbrio.
Ascensão pra ti é o sabor da morte sem sangue.
O valor de estar de estar no céu, e ser tantas senhoras.
Desce Maria, porque ainda tens muitos filhos pra criar!
O homem do mundo era só pra te fazeres abençoada,
Pra mau te compararem com desclassificadas.
É quem tem na vida a sorte e a luta: de ser logo escolhida sem contato e sexo,
De não dependurar-te numa altura que estivesses nua, de pulso em coágulo trêmulo.
Algumas, qualquer uma se despe e chora, chora e finge mais gemer... (talvez de perda talvez de prazer).
No entanto, num instante e tanto de sorte, era teu o deleite da morte.
Não extermínio, só eternidade esquiva, de quem na verdade nunca esteve viva.
Douglas Tedesco - 13/12/2007