Negres

negros

de brancos

dentes

e sorrisos

fáceis

tocadores

de piano

são mestres

enganadores

da tristeza

negras

de beleza

rasurada

a carvão

pelas alvas

luzes

luzólhos

azuis

sangues

azuis

negros

motores

do labor

emprestam

seus corpos

aos usos

gerais

doutorandos

da eterna

servidão

negras

dignidades

devastadas

arrastadas

pelo asfalto

a toque

de caixa

eia pois

temos aqui

as culpadas

negros

filhos

da noite

famintos

de cintos

apertados

nascidos

suspeitos

sem sortes

nem jeitos

negras

lágrimas

borram

os autos da

história

de embustes

notáveis

grafados

em arcaicas

obras

negros

matados

no cerne

das peças

teatrais

e rotineiras

condoreiras

tragédias

em brancas

nuvens

negras

raras

pouco

santificadas

e sem céu

cristão

o galardão

do descanso

não alcança

as flageladas

/// A poesia foi escrita em homenagem à atriz, professora e pesquisadora em Teatros Negros, Isabel Oliveira, vitimada por uma perseguição ostensiva de um segurança enquanto fazia compras no supermercado (Carrefour), conhecido por reiterados casos de racismo. Sua brava atitude: ficar apenas em trajes sumários dentro do estabelecimento como forma de protesto. Força e axé na sua luta, Isabel. Você não está sozinha. Você representa mais de 56% das pessoas pretas e pardas que vivem neste país. Nunca mais seremos silenciados. Axé! ///

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 10/04/2023
Reeditado em 22/02/2024
Código do texto: T7760240
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