Independência com morte

De todas as heroínas da antiguidade

Queremos a força e a coragem para lutar por igualdade

De todas as Marias que nos ajudaram a progredir

Queremos a braveza para resistir

Passamos a vida tentando provar que

Não somos apenas um útero e um amontoado de hormônios

Desde Maria Felipa, mulheres tentavam lutar contra os seus demônios

Para, no final, serem anuladas, silenciadas e desvalorizadas

O que causa mais asco é que até hoje nossas dores são banalizadas

O sangue que jorrou de Joana Angélica não foi de menstruação

O sangue que jorrou de Joana Angélica foi de sua execução

O sangue derramado de Joana Angélica não foi o bastante para ficar na história

Mas a morte de Tiradentes nos deu a glória

Queremos a independência de nossos corpos

Não queremos nos encaixar em arquétipos

Queremos a independência financeira

Mas já estamos na idade de ser parideiras

Ele disse: “A mulher tem que ganhar menos, porque ela engravida”

Mas ouvimos que é digno gerar uma vida

“Com quem você vai deixar seu filho para trabalhar?”

Eu sei que não posso falhar

Das ruas às salas de parto

Temos nossos corpos violados

Depois de 200 anos, criamos o vagão feminino

Homens não sabem controlar os próprios “instintos”

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Poema disponível no livro“ Versão brasileira: A voz da mulher”

Link do livro: http://dianadehollanda.com/versao-brasileira-a-voz-da-mulher/e-pub/

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Myllene Bernardo é natural do Rio de Janeiro, nasceu em 11 de julho de 1997, é graduanda em letras — hebraico na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu interesse por poemas surgiu na adolescência através de sua admiração por poesia Slam e de suas observações em relação às mudanças de sua vida, mudanças relacionadas ao corpo, ideologia e pertencimento Étnico-Racial. Myllene tem a escrita como refúgio para entender e materializar os sentimentos.

Myllene Bernardo
Enviado por Myllene Bernardo em 28/03/2023
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