Brasília
Sou morador de Brasília,
Projeto sonhado por Niemeyer,
Cidade desprovida de ares novos,
Marasmo de concreto no cerrado,
Útero gerador de periferias que são escondidas,
Capital com ares de misérias ocultas do público
Em monumentos patrimônios da humanidade.
A sanha do brasiliense é a aglomeração
Consumista em enfadonhos shoppings.
O Lago Paranoá é o habitat natural da burguesia
Enquanto os “oreias-secas” gastam
As horas em fétidas viagens de ônibus.
Os terceirizados comem pastel na rodoviária
E limpam fezes nos departamentos públicos,
Mas sonham com as ilusões meritocráticas
De que "vencerão na vida”.
Expulsar pobres do "centro",
Derrubar ocupações dos humildes
E regularizar invasões dos ricos
É a tônica dos governantes.
Os novos retirantes mastigam marmitas
E morrem nas filas dos hospitais.
Muitos pobres que aqui residem
Têm síndrome de classe média,
Comem pão dormido,
Mas arrotam caviar para não perderem a pose.
Vivem em imóveis de surrados alugueis,
Lotados de dívidas,
Mas exibem carros parcelados
Em suaves prestações de quarenta vezes...
Simulam o estilo de vida do servidor público
E desejam serem semelhantes ao patrão.
Sol Nascente, Fercal, Estrutural,
Rastros de miséria que não são vistos
No cartão postal da cidade.