Ó Rima...
Ó rima, acho que prima,
és do poema a cigarra
que alegra e dá garra
à formiga que se anima
verso abaixo, verso acima
a trabalhar o versejo,
tal e qual o realejo
que empolga o cantador
nas lindas trovas de amor
à mulher de seu almejo.
Ó rima, além do arpejo
que faz vibrar a palavra,
tu és na jeira e na lavra
o adubo do motejo
pra semear o desejo
donde brotará a trova
que à luz dará em prova
se o fruto é bom ou não
ao rimar com coração
a primeira boa nova.
Ó rima, defunta à cova,
os versos em liberdade
já sequer sentem saudade
do labor que se comprova
mas que hoje se reprova
entre o fátuo snobismo
que usa o versilibrismo
pra mofar e humilhar
quem bem gosta de rimar
a vida sem egoísmo.
Ó rima, comigo cismo
e sempre hei-de cismar
que a arte de versejar
sem ti teria o abismo
aberto entre o cinismo
do mundo a enlouquecer...
Herdei-te por bem querer
nos juvenis tempos meus
do exímio João de Deus
e contigo hei-de morrer.