Influencer
A influencier vive vinte e quatro horas no instagram
Não tem nenhum amigo mas tem um milhão de fans
Todo dia posta foto no perfil do facebook
Pra divulgar o consumismo, com um milhão de looks
Todo dia, nessa vida, ela busca atenção
Todo dia garimpando preços baixos, promoção
Na vitrine dos stories ela é decoração
E pagando, ela te ajuda, ela faz divulgação
A experiência vem de longe, lá da era do orkut,
Domingo ocioso vendo Caldeirão do Hulk.
Dia a dia nos stories com a rotina da solidão
Isso tudo pra dar em nada, a vida vivida em vão
Todo dia, um textão,
Toda manhã, reflexão.
Vida real: encenação.
Pra virtual dá sua atenção.
Mas ela aposta o seu marketing no seu diferencial
Um rosto pastificado e seu discurso sem igual:
Se aceite, mostre a bunda,
Você é linda, seminua
Passa horas influenciando na sua rede social
Incentivando o consumismo, tem a vida ideal.
Foda-se o consumo consciente, o meio-ambiente,
O importante é aparecer, o resto deixa pra frente.
Influencer
Adoecer
Entorpecer
Ensurdecer
Quando vão dar mídia pras coisas importantes
O longo prazo hoje é menos importante que um instante
No instagram várias ONGs com pedidos de ajuda
Mas usuários gostam mesmo de ver peito e bunda de musa
A carne é barata, disponível na rede
Para verem, comentarem, guardarem, matar a sede
Pessoas desavisadas postam fotos quase sem roupas
E os nojentos se saboreiam às custas das pobres moças
Universo doente, onde é que está a cura?
O doente se acha são, olha que loucura.
Quando a gente acha que só tem doido na rua,
Abra o instagram e veja suas amigas nuas.
O namorado dela olha outras, nada de errado, tudo bem,
Pois os namorados das amigas olham ela, sem roupa, também.
Fora das redes, ela não é nada, não é verdadeira, é ninguém:
Não é rainha da coisa toda, é escrava, é refém.
Usar o tempo com sabedoria, com conteúdos que agregam?
Tô fora, prefiro assistir um estilo de vida que me pregam:
Comprar, das melhoras lojas; exibir, até não aguentar...
Ter tanto dinheiro a ponto de não saber como gastar.
Ajudar quem precisa? Nem pensar, não dá lucro.
No instagram não dá tempo de ser fútil e justo.
Só se der divulgação, se eu me beneficiar,
Senão, tchau querida, pode ir pastar.
Nesse mundo, aonde é que eu me encaixo?
Certas coisas não valem nada, nem um real, nem um centavo.
A superficialidade grita, e o escroto entretém.
O desejo te convida, e a indiferença te mantém.
Disso é que gosto: nenhum conteúdo relevante.
Futilidade o tempo todo: da realidade, está distante.
Grudados no celular, arrastando a tela para baixo,
Olhando os corpos passando, e tirando um pedaço.
Fecho a tela, pra amanhã ser a primeira coisa que eu abro:
Já durmo com o celular na cabeceira, ao meu lado.
Minha dose diária de prazer, o meu bem mais sagrado...
Agora vou sonhar com ela, um sonho demorado.