A Música Que Habita Meus Ouvidos
Hoje, na dita música popular,
Só existem ouvintes para canções
Que apenas balançam as ancas
Em ridículas danças de pop, axé e funk?
As tardes são gastas em repetitivas músicas
De amor berradas por duplas sertanojas?
Meus ouvidos,
Minhas ondas sonoras
Não suportam arte para entorpecer,
Animalizar, bestializar na ordem vigente...
Longe de mim este quadro de limitações.
Abrindo os ouvidos para outros tons,
A instigante música desce nas montanhas em criativas letras.
Na fina pedra da crítica desafia as
Convenções sociais de sua época.
As melodias do violão, os versos do refrão
Devem ser mais que entretenimento,
Devem dizer algo a mais...
Espelhar de forma reflexiva a realidade
Para alterá-la, acordar os dispersos
Para o caótico mundo em que vivemos.
Nessa toada,
Na canção brasileira quero romper
As amarras da mesmisse,
Ultrapassar as barreiras radiofônicas,
Reescrever com Belchior o que interessa mais:
As palavras de amor e mudanças
De um jovem vindo do interior.
Libertar dos currais o admirável gado novo
Na potente voz de Zé Ramalho.
Apagar o fogo ingênuo das paixões com Fagner,
Revitalizar o sertão no frevo espelho cristalino de Alceu Valença.
Amadurecer, semear o amor da cabeça aos pés
No samba-choro-roquificado dos Novos Baianos.