PROFISSÃO DE FÉ

PROFISSÃO DE FÉ

Se você memorizou o momento do vagido inicial

No quarto do parto o vulto da parteira fantasmal

A mulher te pegando nos braços, como se gostasse

De ter-te por perto dos seios. Se você lembrou das

Bandeirolas de São João, Chiquititas afogueadas

Abrindo pernas por sobre fogueiras. Se você ouviu

O Fogo de Prometeu penetrar-lhes olho por olho

Dente por dente, e te perguntaste: Covardes, para

Aonde vão, para onde vais??? Se você não amou

Esse visual, nem desamou os festejos de Natal

Ou vislumbrou a condição “sine qua non” por trás

Dos filhos e filhas do Cordeiro de Deus. Se assim

Mesmo continuou a fazer suas orações à "Alma

Mater" que nutre de esperança entre os muitos,

Um, um único destaque que pode ser você

Se você a todas essas coisas desamou e sorriu

De toda essa dor, você poderá sim ser um escritor.

Se você caminhou por sobre espaços passados

Marcados pelo sol sempre fiel à sola dos pés

Descalços ou firmados nas sandálias da pesca dor,

Se você não morreu nem tampouco se esquivou

Dos perigos das lides e muitas feridas que causou

Na pele tenra das garotas que gostou sob a suave

Contempla ação do que há de sombrio na noite

Em que as abraçou. Se você viu na paixão aquarela

As querelas no nevoeiro da régua, com passos

Destemidos amou e desamou a prostração na Aurora

E o desencanto de se ver frágil e desamparado, zonzo

Por saber como gira a jornada de um dia na Terra

Devastada que separa o antigo passado do Tempo

Do Tempo presente já em futuro processo desse

Anteceder. Se você assimilou exéquias dos mortos

E ficou indeciso e da beira do abismo, escapou você.

Se você jejuou 40 dias e quarenta noites no deserto

E suportou a chibata da milícia armada do opressor

E o império dos sentidos não te fez curvar-se sobre

Os joelhos submissos ao mercado consome dor

E tua vida não foi suprimida pelo relho, e sentistes

O sabor de teu sangue nos lábios insaciáveis de tuas

Concubinas sem amor, e a nova sedução das novilhas

Não te prendeu à quilha da sensual embarcação carnal,

Então, saberás que um dia poderás ser um escritor

E se, diante de um cenário tão pródigo em horrores

Não dormiste por sobre o estrado das facilidades

E no estar confortável entre os que ficaram presos

À sensação de primavera inesgotável, nas ficções

De teu prestativo servidor, criado doméstico

Solícito da prestimosa tecnologia que te fraturou

Nas cores e pétalas brilhantes das flores de Jacinto.

Se em teu coração brilhou a luz da sensação livre

Que te fez vidente, através de um longo, imenso e

Exercitado desregramento de todos os sentidos

Se você não quis perder, ganhou ser o senhor seu

De seus sentidos sob a visão extasiada das chusmas

Que andam em círculo a buscar, covardes, e a bater

Nas portas das casernas em busca do socorro vil

Do totalitarismo... Se você conseguiu não estar entre

Elas, nos espaços sombrios e mórbidos desse mundo

Das cavernas, com sorriso pudeste visualizar a ruína

A queda de 58 milhões de Quefazeres que quiseram

Fazer valer a fulva neblina destrutiva do inferno

Autoritário, onde todos os dias, semanas, meses

E anos seriam igualmente cruéis, a agitar a memória

Dormente dos torturados pelos soldos armados

Que alimentaram os bolbos ressequidos das vidas.

Vidas Secas na Terra do Esquecimento, desalento

Se você não seguiu esse descaminho capitaneado

Pelo Capitão do Gabinete do Ódio e do terror

E de seus seguidores tocadores do Lira no Planalto

Que agora são um punhado de poeira e de medo

De perder mordomias de partido alto, se você

Privou-se desse entulho pedregoso, das imagens

De vidraças e obas de arte rasgadas e quebradas

Da companhia desses pequenos canalhas serviçais

Da antidemocracia, se você não pertence à árvore

Morta desse bordel de terroristas de potencial mal

E estéril, da terra gasta e desolada como se o país

Estivesse esvaziado de sentido democrático

Uma mostra de que esse país está sob a jurisdição

Da cultura de capitães de areia e do Teatrinho

Dramático do Planalto que nada sabe do Tempo.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 28/01/2023
Reeditado em 01/02/2023
Código do texto: T7705783
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