OS CEGOS E OS SURDOS CALAM OS MUDOS
Eles não nos escutam do Senado
Não nos escutam na favela
Nas nos escutam enquanto rezamos a vela
Não nos veem caminhar
Esmolar, pedir e morrer
Não se lembram de nós na igreja
Com a mesa cheia e a mente vazia
Com a cara cheia e o coração vazio
Eles não nos escutam gritar
Implorar
Não nos escutam falar
Não nos escutam chorar
Pois o pranto do pobre não interessa a ninguém
O sangue do preto não importa a ninguém
Mais um dia, uma ou outra esmola,
Mas amanhã? Sem nenhum vintém
Atravessa a rua, esconde a sacola
Segura a bolsa, muda o caminho da volta
Para fazer mais vista grossa
Os cegos e os surdos dominam o mundo
Aos mudos resta à margem
Aquela velha imagem
Que não se quer mudar