OS CEGOS E OS SURDOS CALAM OS MUDOS

Eles não nos escutam do Senado

Não nos escutam na favela

Nas nos escutam enquanto rezamos a vela

Não nos veem caminhar

Esmolar, pedir e morrer

Não se lembram de nós na igreja

Com a mesa cheia e a mente vazia

Com a cara cheia e o coração vazio

Eles não nos escutam gritar

Implorar

Não nos escutam falar

Não nos escutam chorar

Pois o pranto do pobre não interessa a ninguém

O sangue do preto não importa a ninguém

Mais um dia, uma ou outra esmola,

Mas amanhã? Sem nenhum vintém

Atravessa a rua, esconde a sacola

Segura a bolsa, muda o caminho da volta

Para fazer mais vista grossa

Os cegos e os surdos dominam o mundo

Aos mudos resta à margem

Aquela velha imagem

Que não se quer mudar

Rosa de Almeida
Enviado por Rosa de Almeida em 24/01/2023
Código do texto: T7703086
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