Muros do higienismo
Um passeio na cidade
Implica em observar
Muros e cercas elétricas
E eu não deixo de pensar:
É prédio ou uma prisão?
Me sujeito a indagação
Mil coisas penso ao olhar
Grades, muros, muros feios
Vítimas do intemperismo
Moradores prisioneiros
Entre um social abismo
Que os separam das favelas
Que são vistas das janelas
Um vexatório egoísmo
Disfarce de segurança
Mundinho com distopia
Eles mesmos se enganam
Deviam ler mais poesia
Arremendo de prazer
Pasteurizado lazer
Uma mórbida alegria
Nas favelas sem comida
Ecoam sons estridentes
Muitas vozes em uníssono
Cantam e dançam contentes
Alegria ou euforia
Miséria com melodia
Desgraças onipotentes
Luxuosos condomínios
Viraram reais prisões
Políticos prisioneiros
Dentro de suas mansões
Cadeia no domicílio
Que lhes mantém em exílio
E o povo preso em grilhões
Afasta de ti esse cálice
Não cale-se frente o mau
Se tu cultivas o abismo
Atraí dor abissal
Vai colher o que plantou
Semente que semeou
Uma sansara ancestral.
Vivian Lissek