ELEGIA DAS ELEIÇÕES

Meu Deus, por que ora trilhamos

A má rota desta jornada,

Caminho que agora andamos,

Onde a liberdade em prantos

Se desfaz a troco de nada,

Por tanto que a ignoramos?!

Como o povo ainda insiste

Nesta eleição que aflora

Uma dança desprezível?

Por que tal povo desiste

- E isto muito me choca! –

Da liberdade ora triste?

Há brasileiro que dança

Pelo voto que se vende

Por bebida ou por dinheiro

E em bebedice que espanta

Mais ainda essa pobre gente

Patinha em meio à lama!

Esse povo não percebeu,

No decorrer da história,

Que a cadeia que o prende

E qu’inda não se rompeu

Ofusca a nossa glória

- Nessa prisão de Morfeu?

Para onde foi a liberdade

Em São Paulo antevista

Por Paulo – o republicano

– Que sob asas da verdade

Nos séculos seria vista

Tecendo nossa equidade?

A voz que chegou à praça

- Voz da nossa Independência

Que tanto nos encantou! –

Neste tempo cai em desgraça

Sem ter a paz na ciência

De se esvair na cachaça!

Que este canto nesta hora

Não se torne inda mais triste

Pela observação de agora:

De ver alguém que se rende,

De ver alguém que desiste

Da liberdade de outrora!

Num fugaz entendimento

Nesta crise tal que observo

O cantar dos prisioneiros

Que trazem no pensamento,

Alegres grilhões de servo

E que dançam no sofrimento!

Dançam no meio da praça,

Com o álcool que se bebeu...

O brasileiro é assim:

Festeja a própria desgraça

Nos grilhões que recebeu,

Com a bebida em meio à taça!

A vil jornada começa

Quando o vinho os embebeda

E dançando nessa festa

Com a falsa promessa

De receber pão na mesa,

Com grilhões em suas cabeças!

Não mais no verde, vivaz,

Passa o brigue diligente,

Mas na própria consciência,

Com tamanha corrente

Que ri outra vez Satanás

E o político mordaz!

Tenhamos entendimento

Pra conhecer a vileza

E afastar do pensamento

Qualquer mentiroso encanto

Que causa na alma pobreza

E traz pra ela só lamento!

Sim!, levantem-se as armas !

De fogo? Da educação?

Que se rompam os grilhões!

E se desfaça a vil farsa

Que impera em cada eleição,

E o povo grite: "alarma"!