O atalho
Atrasada para o trabalho
Decidi pegar um atalho
Ao dobrar a esquina,
Fui surpreendida por um marginal
Sua cara era de inocência
Mas sua atitude era brutal
Pensei em gritar
Minha voz não obedeceu
Tentei correr
Minha perna estremeceu
Olhei ao meu redor,
Não havia ninguém a quem pedir socorro.
Enquanto procurava um escape,
A voz do malandro ressoava dizendo:
- Passe essa bolsa antes que eu te mate.
Despertei para o fato.
E agora? Ou entrego ou morro
Logo entreguei a bolsa e fui embora
Desprotegida, fragilizada
Mas com vida
Porém com uma agonia
Um sentimento de desrespeito e muito medo.
Fui agredida, me tiraram meu direito
Foi-se embora minha carteira, meu celular e um bom livro
Tudo conquistado com suor de meu trabalho
Ao levar embora a minha bolsa
Ele deixou comigo muito medo
Tudo isso porque pensei em pegar um atalho?
Não. Isso aconteceu porque o direito de ir e vir,
a segurança e bem estar
Prometidas na constituição
não tem como se concretizar
numa sociedade excludente, seletiva, desigual
onde o pequeno que deveria ser tratado como cidadão
é treinado para ser um marginal
Aquela criança, assim como eu, resolveu pegar um atalho
E por isso, infelizmente, em um “caminho mais fácil”
com sua pressa e sua gana, seu destino, assim como foi o meu, pode ser fatal.