Felicidade Virtual
Tão uniformizados estão os desejos
E virtualizados a capacidade de concretiza-los.
São diversas as informações, gigas de memórias,
Mas confusas as possibilidades de reais vivencias.
Emulam a vida em muitos aplicativos, processadores,
Mas poucos a experimentam sem incluir crescente alienação.
Um mundo virtual com peças bem planejadas:
Youtubers anunciam receitas de sucesso,
Blogueiras do fim do mundo fossilizando futilidades
Que massificam as experiências em repetidas selfies narcisistas.
No tabuleiro das relações humanas fabricam potentes equipamentos
Que alargam o fosso de palavras entre os homens.
A tecnocracia virtualiza como estranho jogo todas as emoções.
Como velhos smartphones os amantes se tornam produtos descartáveis,
O amor líquido precisa ser degustado e rápido em novos lábios.
A tinderização de bustos e coxas incute nos falos o intenso passeio
Em diversas geografias femininas sem nenhuma culpa ou remorso.
E as e-tribos não param de brotar nas esquinas de redes sociais:
Incels, ancaps, terraplanistas, identitários, coaches, sugar babies,
Que enorme preguiça eu tenho dessa Babel pós-moderna.
Carrego comigo a sensação de ser um homem de outros tempos:
Um bárbaro da Antiguidade, um ermitão do século XIX
Que ainda não pariu em seu crânio as cantigas de felicidade
Dessa gente que arrota good vibes em posts e comentários