Metafísica Circundante à Vida
Eu acordei da mesma forma como outro dia qualquer,
Um homem empalhado (a contragosto) na pôs-modernidade.
Diante de mim, a solidão estatelada na monotonia dos computadores e televisores.
As redes sociais, os e-mails e as fofocas só alargavam o cuspe valorativo.
Feria-me numa entediante repetição monocrática, os burocráticos papeis,
Que de forma disciplinar sufocavam os indizíveis desejos de liberdade.
Os cansados olhos almejavam os domingos rebentados em alguma ventura.
Com o elmo do ego cheio de nada e repensando minha insignificância como poeira cósmica,
Questionei repentinamente: o que há na evaporada adega que é a vida que
Justifique toda essa epopeia existencial? Qual forma ou sabor justifica e enobrece essa vida?
É um gesto sem vigor, olhos secos esperando a miragem da morte, força direcionada ao vazio?
E mesmo que a jornada seja injustificável por frágeis dogmas, valorizada num sólido axioma, Veio ao crânio um redemoinho de recordações... Vivencias que amenizam
A pedra de Sísifo - suavizam o passar dos anos no caminho terminal.
As vozes das lembranças ecoaram evasões de sentimentos, que mesmo irregulares,
Davam-me força para suportar o fardo de ninharias.
Lembrei-me que dilacerei o cotidiano em inusitadas viagens mundo afora.
Lembrei-me que os bárbaros fins de tarde eram acalentados pelo carinho familiar.
Lembrei-me que os lábios eram refrescados num intenso vinho.
Lembrei-me do estomago forrado com a boa culinária e engenhosas ideias que divertiam o cérebro.
Então olhei para o teto do ceticismo absoluto e afirmei: não nasci para pagar contas, trabalhar
E depois caminhar bovinamente para a morte. A vida intensa adoça todas as coisas.
Se a vida é curta e muda de sentidos, não são seus becos sem saída que causarão paralisias.