Alguns Dias Distante de Pasárgada
Eu permaneço com o peito na ilha dos dias vazios,
Terreno baldio, cheio de erva daninha.
Eu tenho jogado fora todo o ânimo enquanto
Vejo pessoas vivendo num consumismo vão.
Quisera eu nesse vazio encontrar a famosa Pasárgada
Para libertar-me do tédio, suavizar o peso do crânio.
Como abandonar as atitudes bestializantes
Dessa gente mesquinha que cospe salvações aos quatro ventos?
O que pode preencher as inquietações para lá de metafísicas?
Os filósofos e teólogos discutem em prolongado palavreado
O ser e a ética, a matéria do cosmos, a origem do universo...
Mas tudo isso são ideias que não abalam o pesado ar.
Há várias Joanas loucas pelas ruas
E não tenho nenhuma intimidade com os reis do meu país.
E esta vida em dias toscos, esta estrada sem volta,
De tanto valorizar instantes fúteis, de tanto misturar joio com o trigo,
De verter sangue em pútridas pérolas,
De tornar atos cínicos em prodigiosa terapia,
Tornou tão distante a gostosa cidade de Manuel Bandeira,
Terra quase impalpável nas utopias e sonhos.